domingo, 12 de dezembro de 2010

SEM CORES, DE TODOS SABORES


Eu canto o negro ferido
A agonia do medo na dor de uma sina

Eu estremeço...
Ouço o ranger dos dentes
É o grito escondido
No orgulho mantido

Eu choro...
No áspero tronco
A solidão do vazio
A falta de compaixão
É a carência de amor,
De amigo.

Eu canto a negra calada
Na noite ruidosa
De uma senzala qualquer.

Eu exalto a eterna paixão
O vulcão das entranhas ardentes
É a negra de altiva fronte
Deleite de feitores
Mãe-de-leite pros senhores

O machado fincado
A cana, o gado, o açoite
A mente fervilhando
Cai o negro trôpego andrajo

Era o negrinho da espinha vergada.

Foi-se...
Não sabe que inda hoje
De sol a sol
De fio a fio
Há negros de muitas cores
Vergando a espinha
Enriquecendo senhores.

E as negras caladas?
Ah...em recantos longínquos
Profanam seus sonhos.
Negras sem cores
Negras de todos sabores,
De todos sabores...


Dirceu Kommers

OCEANO

Sou um Oceano
Onde a tempestade
Causa a onda gigantesca
Que se ergue majestosa
Para mostrar imponência

Mas, por mais longa e violenta
Acaba cedendo
E deita-se,
A princípio revolta
Depois mansamente
Sobre um superfície
Calma e rena
Doce e acariciante...
Você!


Dirceu Kommers

Levado pelos Ares.

Eu quero um pássaro
Que voe bem alto
Só para dizer ao céu
Que a amo muito.

A nuvem que passa
Escutará atenta sua voz
Contará as outras
E lá em cima saberão do meu amor.

E haverão algumas mais românticas
Que explodirão em gotas
Cairão sobre a terra seca
E correram aos rios e mares
Para dizer o quanto te quero.

E um peixe ao ouvir a chegada da chuva
Ficará a espreita
A espera de “boas novas”
E certamente irá rir
Ao ver os meios de transportes que usei
Para dizer ao céu e ao mar
Que simplesmente te amo.


Dirceu Kommers.

O Negro dos Brancos




Na mistura das raças
Dos brancos aos negros proclamada
Houve muita pirraça.
No negros dos brancos,
cultura foi cachaça.
Na marca que fica
de grandes desgraças
houve o quilombo das caças
de bandeirantes com antigas tarraxas
deixando o negro morrer
por querer do pai, enterrar a carcaça.
Ninguém se lamenta dessas matanças
O negro inda hoje é o herói da dança
porque o branco não monta
no negro de suas andanças.
Quem matou foi herói
Quem morreu “Chico Pança”.
O carpinteiro tão negro
O martelo martela o dedo.
A branca deixou
Ao negro chupar as tetas
O mundo se agitou
Porque ela gostou
Mataram a quem?
Pergunte ao negro do além!


Dirceu Kommers

O LAGO E O ANCIÃO

A nua face do lago brando
Esconde um  segredo
Esconde um medo.
Nas tocas fundas
Da encosta larga
Remexem-se vis animais
Os mais horrendos
Deslizam encosta abaixo
Rastejam, farejam
São peçonhentas nauseabundas
Cobras velhacas
Em ardis traiçoeiros
Tramando a morte
De frágeis companheiros.
Quando o vento sopra forte
É um aviso aos descuidados
Ele vai e volta
Uivando desesperado
Presenciando angustiado
A passividade de uma raça acomodada
O lago pobre e servil
Retorce
 Num calafrio
Pois que, mais um pouco e será sorvido
Pelas bestas do covil.
O Sol perdido no ocaso
Não vê o ancião que se aproxima
Que pára frente ao lago
E que, cabisbaixo, começa a recordar...
Recorda que outrora também foi moço
Também foi puro e manso
Como o lago que ali está
Mas foi sugado pouco a pouco
                                   dia a dia
até a última gota de suor
viu, sentiu seu manancial esgotar
é hoje só um maltrapilho
está velho e inútil
inútil como o leito de um lago que secou.
De repente um pingo agita levemente
A calmaria do lago.
Em sobressalto ergue os olhos:- choverá?
Logo sorri acabrunhado, um tanto sem jeito
Vendo a Lua brilhante no firmamento
Ah...! Lua....única testemunha
Da lágrima que deixou rolar.


Dirceu Kommers

Visionário da Esperança

Desesperança é um pesadelo.

Viva em sonhos de felicidade
Isto não é fuga para ti
Só o é para os amargos,
Os pobres, os frios...

A esperança diz que tudo é possível

Não é ilusão, é fé
Dê as mãos à esperança,
Envolva-se com o sonho
E apóie-se na fé.

Ouvirá sinos dobrarem em seu coração.

Em sua garganta,
Vão aflorar cânticos de paz
E tua simples oração
Será um Santo Hino de Amor.

E tudo será tanto de ti

Que muitos voltarão à fé
Que outros tantos
Irão embalar-se em sonhos
E ainda outros
Terão na face branda
O sorriso confiante
Dos corações abertos
Pela esperança nova.

E o tudo que foi tanto de ti
Será tudo e tantos de todos

Que soará ao longe,
Muito além dos campo e mares
Saciando almas sedentas
E purificando espíritos.

E haverá tanto de tudo

E será tanta a harmonia
Que até os anjos descerão
E cantarão louvores
Ao Regente da Orquestra da Esperança:
- Você !


Dirceu Kommers

O ATO ESSENCIAL


Você pousando seu olhar cálido
Em minha boca
Teus lábios entreabertos num convite
Que teu hálito quente anuncia
O arfar descompassado do teu peito
Que faz o sangue correr rápido em minhas veias
Teus poros que soltam no ar
O delicioso cheiro do teu corpo
Quando apenas sutil e carinhosamente o toco
Os beijos ardentes, o entrelaçar dos corpos
O deleite dos abraços e carícias
O suor dos nossos corpos unindo nossas peles
Misturando nosso cheiro
E exaltando nossos sentidos.
É o átomo atônito.
É o êxtase de nossos sentidos.
São as partículas num frenesi alucinante
Enlouquecidas pelo calor imensurável e estupefaciente
Desprendendo de nossas células.
É a exultação máxima do prazer
Inenarrável em seu âmago.
A garganta arrancando d’alma um rouco gemido.
Quando as funções estão presas a um só ato,
A um só jato.
É uma explosão de mim megatons,
Impetuosa, alucinante, devastadora.
É a razão fora da razão, sem proporção.
É a Metafísica sobrepujando a Lógica.
São as barreiras da racionalização
Tombando as transcendências dos sentidos
Na manifestação mais ampla e cristalina do nosso amor.


Dirceu Kommers