domingo, 12 de dezembro de 2010

O LAGO E O ANCIÃO

A nua face do lago brando
Esconde um  segredo
Esconde um medo.
Nas tocas fundas
Da encosta larga
Remexem-se vis animais
Os mais horrendos
Deslizam encosta abaixo
Rastejam, farejam
São peçonhentas nauseabundas
Cobras velhacas
Em ardis traiçoeiros
Tramando a morte
De frágeis companheiros.
Quando o vento sopra forte
É um aviso aos descuidados
Ele vai e volta
Uivando desesperado
Presenciando angustiado
A passividade de uma raça acomodada
O lago pobre e servil
Retorce
 Num calafrio
Pois que, mais um pouco e será sorvido
Pelas bestas do covil.
O Sol perdido no ocaso
Não vê o ancião que se aproxima
Que pára frente ao lago
E que, cabisbaixo, começa a recordar...
Recorda que outrora também foi moço
Também foi puro e manso
Como o lago que ali está
Mas foi sugado pouco a pouco
                                   dia a dia
até a última gota de suor
viu, sentiu seu manancial esgotar
é hoje só um maltrapilho
está velho e inútil
inútil como o leito de um lago que secou.
De repente um pingo agita levemente
A calmaria do lago.
Em sobressalto ergue os olhos:- choverá?
Logo sorri acabrunhado, um tanto sem jeito
Vendo a Lua brilhante no firmamento
Ah...! Lua....única testemunha
Da lágrima que deixou rolar.


Dirceu Kommers

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